domingo, 18 de maio de 2008

Brindando bons tempos



Até a segunda metade do século 20, a mocidade não tinha vez, descreve Mário Quintana. “ Quando guri, eu tinha que me calar a mesa: só os grandes falavam. Agora tenho que ficar calado para que as crianças falem.”

Na medida em que os valores da sociedade foram mudando, novos estereótipos foram
surgindo, inclusive acerca daqueles já existentes. Daí a transformação do vegetariano eco-chato para o exemplo saudável de vida; do divórcio intolerável para um bom negócio, e finalmente, da admiração do vivido à ascensão do repúdio pela velhice.

Anúncios publicitários constantes regem a linha de pensamento de uma memória moderna, a qual constrói-se dia após dia em cima do consumo do jovem e do novo. Tornou-se ordem estacionar corpo e mente na adolescência. A velhice é um fato-fardo tão distante e fora da realidade que convém encaixota-la em lugares apelidados de “lar para a melhor idade”, porque assim, qualquer movimento incômodo será obsoleto.

Ser idoso em meio à atual regurgitação mundial tecnológica e reciclável é ser contra o moderno. É ser um militante de uma nova contra-cultura. Enquanto o agora for patriarca global e a morte celular inevitável, resta assistir os que ainda são jovens vendarem seus olhos para que ousem a se sentar à mesa.

Li Teixeira

Um comentário:

*Raíssa disse...

Mais um texto genial de Lívia Melissa.
Digo e repito: o que você estava fazendo na nutrição com esse dom da escrita?
Todos os seus textos são ótimos! Continue escrevendo para deliciar nossos olhos.

Beijos! :**