quarta-feira, 28 de maio de 2008

Criando nadas

Todo dia tudo acontece. Reuniões, trabalhos, corridas, pesquisas, bolhas, colas entre dedos, pessoas, problemas e soluções começam cedo e perduram seguindo o mesmo ritmo até a hora de encostar a cabeça sobre o travesseiro.

Mas o que chama o cansaço, as olheiras e o passar de mãos rente ao couro cabeludo é inquietude de pensamentos.

Pensamentos para criar, racionalizar, dimensionar e principalmente interferir . Com isso, fica nesse post apenas a vontade de escrever, de expulsar algumas bolhas de ar incômodas entre os miolos de massa cinzenta.

Diriam os terapeutas e os analistas amadores: "Trata-se de um caso típico de ansiedade."

Anseio por um aspirador e um lixo seletivo decente. Serve?

terça-feira, 20 de maio de 2008

Adesivos de carro

"Você vê o que quer ver".

Por outro lado, é miopia não notar os olhares amarelados e cinzas das ruas. Nos asfaltos, pontos de ônibus, vagões de trem, sinais de trânsito, somente os outdoors têm o direito de sorrir.

Frase

"O livro é um animal vivo" - Aristóteles.

Vale acrescentar: cuidado com ele.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Do povo

Estava à caminho da faculdade quando um senhor, baixa estatura, barba e bigode grandes de cor castanha mas escuros por falta de cuidados, voz rouca e arrastada, entrou no ônibus pela porta traseira. Caminhava com dificuldade de poltrona em poltrona sussurando:

- Com licença, desculpe incomodar..

E de poltrona em poltrona entregava bolinhas coloridas (semelhante aos saudosos ovos de dinossauro ) agrupadas em fileira dentro de uma embalagem plástica. Em anexo, seguia um pequeno bilhete impresso:

"Ninguém é tão ninguém que não precise de alguém como eu preciso de você."

Coisas do povo.

Embutindo leituras

A leitura, palavra introdutória de assuntos 'cabeça', é responsável pela formação de conhecimento e agregação de valores. Até aí, tudo bem. Por meio de jornais, revistas, livros e wikipedias, as informações se exibem voluptuosas para todos os olhos de todos os gostos.

No entanto nem é preciso correr atrás de algum comentário de Milton Santos para saber que apesar dos milhões de olhos brasileiros, são poucos os que realmente enxergam e interiorizam informação. Esse fato nada tem a ver com o poder pagar por elas. Vá para a PUC e descubra a surpreendente maioria que tem dificuldade em apreciar a leitura.

Com todo o comodismo capital, o jornalismo televisivo e impresso torna-se canal de informação imediata: situa o leitor da sua realidade, no seu tempo e espaço em 'troca de trocados'. Por outro lado, nessa categoria de comunicação, existem interesses de terceiros que distorcem as verdadeiras narrações. Assim, o leitor, quando não domina um conhecimento prévio sobre o assunto, absorve a opinião disforme como sua.

Visto que a leitura leva à interpretação de mundo, é preciso que os conceitos sobre a verdadeira realidade estejam devidamente estruturados. Do contrário, olhos e ouvidos aceitarão as hipócritas letras dos intitulados jornais de grande circulação a um preço barato sem controle de qualidade.

Trocar leitura fresca por embutida às vezes pode ser conveniente, no entanto, vale o cuidado com tal hábito. A forte influência do jornalismo televisivo e impresso pode obstruir a capacidade de interpretação própria.

Li Teixeira

domingo, 18 de maio de 2008

Brindando bons tempos



Até a segunda metade do século 20, a mocidade não tinha vez, descreve Mário Quintana. “ Quando guri, eu tinha que me calar a mesa: só os grandes falavam. Agora tenho que ficar calado para que as crianças falem.”

Na medida em que os valores da sociedade foram mudando, novos estereótipos foram
surgindo, inclusive acerca daqueles já existentes. Daí a transformação do vegetariano eco-chato para o exemplo saudável de vida; do divórcio intolerável para um bom negócio, e finalmente, da admiração do vivido à ascensão do repúdio pela velhice.

Anúncios publicitários constantes regem a linha de pensamento de uma memória moderna, a qual constrói-se dia após dia em cima do consumo do jovem e do novo. Tornou-se ordem estacionar corpo e mente na adolescência. A velhice é um fato-fardo tão distante e fora da realidade que convém encaixota-la em lugares apelidados de “lar para a melhor idade”, porque assim, qualquer movimento incômodo será obsoleto.

Ser idoso em meio à atual regurgitação mundial tecnológica e reciclável é ser contra o moderno. É ser um militante de uma nova contra-cultura. Enquanto o agora for patriarca global e a morte celular inevitável, resta assistir os que ainda são jovens vendarem seus olhos para que ousem a se sentar à mesa.

Li Teixeira

sábado, 17 de maio de 2008

Misto-quente


Enfim, terminei Bukowski! Sobre esse autor, já tinha ouvido falar há um bom tempo mas só agora nós nos encontramos
( muito obrigada, Bruninha! ).


Misto-quente é amargo, bruto, sádico e imperdoável e intensifica ainda mais temas como sexo, alcoolismo e violência. O livro, em suma é um estupro da hipocrisia humana. Para quem curte palavras tradicionais ( entende-se por conservadorismo literário ), o livro tende a ser rasgado; por outro lado, sair da rotina intelectual pode virar uma mudança prazerosa. Já para quem busca livros temperados de críticas ardentes ao comportamento social com um toque auto-biográfico, Misto-quente é para toda hora.


Bukowski, apesar da mão pesada, demonstra uma sensibilidade incrível para descrever cenas e personagens com tanta precisão em poucas linhas. Bukowski é surpreendente: em algumas páginas, te comove, em outras, te faz rir.


Dizem por aí que só lhe restam duas opções: odiá-lo ou amá-lo. Bom, ainda não o amo, mas Hollywood já está na lista dos próximos livros a serem lidos :)

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Dissertando sobre Inspiração



Inspiração não é divina, é humana. Da mesma humanidade que o erro, para encontrá-la, basta perceber o instante em que raciocínio e memória convergem. Raciocínio para argamassar, memória para construir.

Memórias, lembranças, e impressões, formam boa parte da criação de conceitos, e a partir deles nascem as invejáveis informações-objeto. Assim, é preciso observar para desenvolver idéias. Não falo da observação que exclui os cegos, mas da orgânica, ou como uns bradam por aí, simplesmente reconhecer que a vida existe.

Portanto, é primordial viver para criar. Não viver de qualquer maneira: viver quebrando as regras clichês do carpe diem. Porque viver deve ser percebido e não apenas cumprido como uma lista de compras da semana ou como o pagamento de uma conta de telefone. Do contrário, ouviremos Lulu Santos como a um mantra “tudo passa, tudo sempre passará”.

Pressa. Falta tempo para nos convencermos que somos seres pensantes. Os pensamentos agrupam-se em longínquas filas do SUS pedindo para serem notados antes que o sol se ponha, no entanto, até o pôr-do-sol passou despercebido. Faz-se necessário o tempo mínimo suficiente para reconhecer que o pensamento existe. Todos merecemos descobrir idéias interessantes frutificadas em nós mesmos.

Sentiu, gravou, lembrou, compreendeu, deixou e percebeu. O que difere a idéia da inspiração é que enquanto uma é processual, a outra, é imediata. Ambas do mesmo sangue, do mesmo arranjo psico-molecular. Nada de divino, apenas eureka.


Li Teixeira

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Música


Já faz um tempo que não descrevo por aqui, sinal de que o tempo ultimamente tem ocupado tanto minha cabeça quanto meus dedos. Muitas coisas interessantes rolaram durante a ausência no blog, e cabe a mim conta-las aos poucos para que recebam o merecido espaço.


No momento estou curtindo as oficinas do primeiro periodo do Villa, obrigatórias para quem deseja obter o certificado de conclusão do curso. Oficina de violão, trompete, tuba, guitarra eletrica, baixo acústico, canto, oboé, bateria, fagote, choro.. tudo o possível e imaginário para 2h de apreciação. Tudo maravilhoso! No entanto, devido a falta de horarios disponíveis, escolhi apenas guitarra, sax, canto e flauta transversa, a quantidade mínima exigida.


Todas, fantásticas. A guitarra era incrível ( O Cebola ainda exibiu um pouco de Satriani e performances de baião, samba e eruditos ); o canto, delicioso; a aula de história das flautas foi interessantíssima, pudemos ver e ouvir todos os tipos de flautas possíveis desde as medievais! Mas o ápice de todas elas, absolutamente, foi a oficina de saxofone.


Talvez seja tendencioso glorificar esse instrumento, já que é por causa dele que estou no Villa, mas de fato, o show do sax foi de marejar os olhos. A interpretação de Tom Jobim não poderia ser mais emocionante: ao som do tenor metálico, o orgânico vibrava, os ouvintes não resistiam e balançavam as cabeças acompanhando a melodia, e a admiração por aquela sonoridade intensa explodiu dentro de todos que estavam no auditorio Guerra Peixe.


O sax tocava para todos e em todos nós.
E vale dizer mais uma vez: Música, te admiro!