domingo, 1 de junho de 2008

Maracatu


Finalmente conheci o maracatu de perto. Minha querida amiga Ayla, uma dessas pessoas repleta de alternativismos, lançou o convite e lá fomos nós!


De Maracatu eu só conhecia por alto 2 músicas, ou seja, uma completa leiga no assunto (se bem que as coisas diferentes ou nunca experimentadas são tão atraentes quanto livros de coleção de artes ou um bom cappuccino gelado). Assim, andando pela lapa, ouvimos umas batidas suspeitas e aquele som de alguma forma nos serviu de bússola e em pouco tempo, seguindo o ritmo, encontramos a aglomeração colorida de pessoas e instrumentos contagiantes.


Tum-tum-tum-pá.. Tum-tum-tum-pá.. a pulsação era incrível, orgânica, de uma violência fantástica! Acompanhávamos os dançarinos e a percurssão junto à centenas de pessoas. Dançávamos aos pulos e aos braços, parando o trânsito, condensando fotos e contaminando olhares e ouvidos pelas ruelas da Lapa.


A noite inteira nos embebedamos com os movimentos laranjas, vermelhos, amarelos, azuis e brancos. A noite inteira, sonhamos com o som.


Maracatu: experimente.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Criando nadas

Todo dia tudo acontece. Reuniões, trabalhos, corridas, pesquisas, bolhas, colas entre dedos, pessoas, problemas e soluções começam cedo e perduram seguindo o mesmo ritmo até a hora de encostar a cabeça sobre o travesseiro.

Mas o que chama o cansaço, as olheiras e o passar de mãos rente ao couro cabeludo é inquietude de pensamentos.

Pensamentos para criar, racionalizar, dimensionar e principalmente interferir . Com isso, fica nesse post apenas a vontade de escrever, de expulsar algumas bolhas de ar incômodas entre os miolos de massa cinzenta.

Diriam os terapeutas e os analistas amadores: "Trata-se de um caso típico de ansiedade."

Anseio por um aspirador e um lixo seletivo decente. Serve?

terça-feira, 20 de maio de 2008

Adesivos de carro

"Você vê o que quer ver".

Por outro lado, é miopia não notar os olhares amarelados e cinzas das ruas. Nos asfaltos, pontos de ônibus, vagões de trem, sinais de trânsito, somente os outdoors têm o direito de sorrir.

Frase

"O livro é um animal vivo" - Aristóteles.

Vale acrescentar: cuidado com ele.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Do povo

Estava à caminho da faculdade quando um senhor, baixa estatura, barba e bigode grandes de cor castanha mas escuros por falta de cuidados, voz rouca e arrastada, entrou no ônibus pela porta traseira. Caminhava com dificuldade de poltrona em poltrona sussurando:

- Com licença, desculpe incomodar..

E de poltrona em poltrona entregava bolinhas coloridas (semelhante aos saudosos ovos de dinossauro ) agrupadas em fileira dentro de uma embalagem plástica. Em anexo, seguia um pequeno bilhete impresso:

"Ninguém é tão ninguém que não precise de alguém como eu preciso de você."

Coisas do povo.

Embutindo leituras

A leitura, palavra introdutória de assuntos 'cabeça', é responsável pela formação de conhecimento e agregação de valores. Até aí, tudo bem. Por meio de jornais, revistas, livros e wikipedias, as informações se exibem voluptuosas para todos os olhos de todos os gostos.

No entanto nem é preciso correr atrás de algum comentário de Milton Santos para saber que apesar dos milhões de olhos brasileiros, são poucos os que realmente enxergam e interiorizam informação. Esse fato nada tem a ver com o poder pagar por elas. Vá para a PUC e descubra a surpreendente maioria que tem dificuldade em apreciar a leitura.

Com todo o comodismo capital, o jornalismo televisivo e impresso torna-se canal de informação imediata: situa o leitor da sua realidade, no seu tempo e espaço em 'troca de trocados'. Por outro lado, nessa categoria de comunicação, existem interesses de terceiros que distorcem as verdadeiras narrações. Assim, o leitor, quando não domina um conhecimento prévio sobre o assunto, absorve a opinião disforme como sua.

Visto que a leitura leva à interpretação de mundo, é preciso que os conceitos sobre a verdadeira realidade estejam devidamente estruturados. Do contrário, olhos e ouvidos aceitarão as hipócritas letras dos intitulados jornais de grande circulação a um preço barato sem controle de qualidade.

Trocar leitura fresca por embutida às vezes pode ser conveniente, no entanto, vale o cuidado com tal hábito. A forte influência do jornalismo televisivo e impresso pode obstruir a capacidade de interpretação própria.

Li Teixeira

domingo, 18 de maio de 2008

Brindando bons tempos



Até a segunda metade do século 20, a mocidade não tinha vez, descreve Mário Quintana. “ Quando guri, eu tinha que me calar a mesa: só os grandes falavam. Agora tenho que ficar calado para que as crianças falem.”

Na medida em que os valores da sociedade foram mudando, novos estereótipos foram
surgindo, inclusive acerca daqueles já existentes. Daí a transformação do vegetariano eco-chato para o exemplo saudável de vida; do divórcio intolerável para um bom negócio, e finalmente, da admiração do vivido à ascensão do repúdio pela velhice.

Anúncios publicitários constantes regem a linha de pensamento de uma memória moderna, a qual constrói-se dia após dia em cima do consumo do jovem e do novo. Tornou-se ordem estacionar corpo e mente na adolescência. A velhice é um fato-fardo tão distante e fora da realidade que convém encaixota-la em lugares apelidados de “lar para a melhor idade”, porque assim, qualquer movimento incômodo será obsoleto.

Ser idoso em meio à atual regurgitação mundial tecnológica e reciclável é ser contra o moderno. É ser um militante de uma nova contra-cultura. Enquanto o agora for patriarca global e a morte celular inevitável, resta assistir os que ainda são jovens vendarem seus olhos para que ousem a se sentar à mesa.

Li Teixeira